Entre as instituições cujas autoridades máximas têm permissão de viajar com aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), o gabinete da vice-presidência da República foi o que mais utilizou o recurso desde o início de 2011. Foram 363 voos do início daquele ano até 4 de julho de 2013: 147 em 2011, 138 em 2012 e 78 neste ano. Michel Temer (PMDB) assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2011. A assessoria de imprensa da vice-presidência não foi localizada para comentar.

UOL teve acesso a um relatório da FAB que aponta todas as missões de atendimento feitas pelas aeronaves da instituição em 2011, 2012 e de 1º de janeiro a 4 de julho deste ano. Os dados mostram quantidade de voos, e não de viagens, já que pode haver casos em que apenas um dos trechos foi feito com aeronave da FAB.

QUANTIDADE DE VOOS DA FAB USADOS POR INSTITUIÇÕES FEDERAIS

Ano Vice-presidência da República Câmara dos Deputados Senado Federal STF
2011 147 143 52 3
2012 138 120 46 2
De 1º.jan a 4.jul.2013 78 63 30 6
Total 363 326 128 11

O segundo lugar no ranking dos que mais voam é da presidência da Câmara dos Deputados. Foram 326 voos no mesmo período. Em 2011 e 2012, quando Marco Maia (PT-RS) era o presidente da casa, foram 143 e 120 voos, respectivamente. Neste ano, foram 63 voos até então. Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) assumiu a presidência em fevereiro. A assessoria de imprensa da presidência da Câmara não foi encontrada para comentar.

Em terceiro lugar vem a presidência do Senado Federal, com 128 voos. Foram 52 em 2011, 46 em 2012 e 30 neste ano. Em 2011 e 2012, o presidente da Casa era José Sarney (PMDB-AP). Renan Calheiros (PMDB-AL) assumiu o cargo em fevereiro deste ano. Procurado, o Senado considerou o tempo disponível para comentar este levantamento da FAB insuficiente, masdivulgou notas em que destaca iniciativas da instituição para aumentar a transparência nos gastos e em que informa que Calheiros usou os serviços da FAB para compromissos de representação.

Por último, o STF (Supremo Tribunal Federal) foi o que menos utilizou o benefício: onze voos no período. O ministro Cezar Peluso fez três voos em 2011 e Ayres Britto dois em 2012. Neste ano, a FAB informa que foram realizados seis voos, informação contestada pela assessoria de imprensa do STF, que diz que são quatro voos em duas viagens, já que para cada uma o presidente Joaquim Barbosa usou ida e volta: uma para um mutirão carcerário no Rio Grande do Norte, em 19 de abril, e outra para um seminário sobre liberdade de imprensa na Costa Rica, em 2 de maio.

Instituições não precisam detalhar nomes de passageiros

O uso de aviões da FAB é regulado pelo decreto nº 4.244, de 22 de maio de 2002. É permitido usar os voos nas seguintes situações: motivo de segurança e emergência médica, viagens a serviço e deslocamento para o local de residência permanente.

Além dos presidentes das casas citadas acima, o transporte aéreo é autorizado para ministros de Estado e demais ocupantes de cargo público com prerrogativas de ministro de Estado e comandantes das Forças Armadas e chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Ainda há a possibilidade de outras autoridades, nacionais e estrangeiras, utilizarem as aeronaves, se assim for permitido pelo ministro de Estado da Defesa.

Ainda conforme o decreto, as autoridades devem informar ao Comando da Aeronáutica a situação da viagem e a quantidade de pessoas que as acompanharão no voo, sem precisar, porém, dizer quais os motivos que levam cada uma delas a estarem viajando junto.

Conforme explicou a FAB, o pedido de voo é feito por meio de um ofício onde é necessário apenas especificar a quantidade de passageiros, sem precisar informar os nomes destes, nem mesmo se o próprio presidente do órgão que está fazendo a solicitação está entre eles. Os nomes apenas são passados à tripulação no momento do voo, e não cabe a esta equipe questionar se as pessoas podem viajar e quais as circunstâncias.

Custos dos voos são sigilosos

De acordo com a FAB, para estes voos são usados quatro aviões C-99 (Embraer 145), dois VC-97 (Embraer 120 Brasília), seis C-99 (Embraer 135 Legacy), dois VC-2 (Embraer 190), dois VU-35 (Learjet 35), um VU-55 (Learjet 55) e dois helicópteros VH-35 (EC-135).

Ainda conforme a FAB, o custo da hora de voo de aeronaves militares é informação estratégica e por isso protegida, conforme estabelece o inciso 6º do Artigo 25 do decreto n° 7.724/2012.

Autoridades fazem uso indevido de aviões

O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nesta sexta-feira (5) que vai devolver R$ 32 mil aos cofres públicos devido ao uso de um voo da FAB (Força Aérea Brasileira) no último dia 15 de junho, para fins particulares. Segundo a “Folha de S.Paulo”, Renan requisitou um avião modelo C-99 para ir de Maceió a Porto Seguro (BA), onde participou do casamento da filha do senador Eduardo Braga (PMDB-AM).

Hoje, a “Folha de S.Paulo” revelou que o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, também fez uso de aeronave oficial em final de semana, o ministro saiu de Brasília na sexta-feira passada, às 6h, com destino a Fortaleza para cumprir agenda oficial na cidade de Nova Morada (CE). O compromisso acabou pela manhã, e, em vez de retornar à capital, o ministro foi direto para o Rio de Janeiro, onde não tinha compromissos oficiais.

E

m nota oficial, o Ministério da Previdência declarou que Garibaldi Alves tinha passagem comprada para ir ao Rio em avião comercial. O documento também afirma que o ministro voltou a Brasília em voo comercial, e não informa se Alves pretende ou não devolver o dinheiro gasto aos cofres públicos.

No entanto, segundo a nota, ele decidiu mudar o itinerário e avisou a mudança ao Comando da Aeronáutica. “Ao final da cerimônia oficial no Ceará, em vez de retornar a Brasília, ou mesmo a Natal, como lhe facultava o art. 4º do Decreto n.º 4.244/2002, a aeronave da FAB o levou diretamente ao Rio de Janeiro. ”

Garibaldi é primo do presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que também usou avião da FAB para ver o mesmo jogo da seleção no Maracanã, em que levou sete convidados de Natal para o Rio. Alves disse que ressarciu o dinheiro das passagens aos cofres públicos.

Nesta sexta-feira (5), Garibaldi comunicou ao Palácio do Planalto que irá ressarcir os cofres públicos do valor do voo no avião da FAB.

Nas solicitações para usar as aeronaves da Força Aérea Brasileira, Renan e Henrique Alves alegaram que a viagem seria “a serviço”, de acordo com o que estabelece o decreto 4.244/2002 – que prevê atendimento apenas para situações em que haja motivo de segurança, emergência médica, serviço e deslocamentos para o local de residência permanente. A assessoria da FAB informou não dispor, até o momento, da justificativa apresentada pelo ministério para a ida de Garibaldi ao Rio de Janeiro.